No reino das palavras
Circulamos entre palavras. Muitas delas não existiam antes da nossa geração ou modificaram-se historicamente, como neste fragmento de uma cantiga trovadoresca.
Não chegou, madre, o meu amigo,
E oje est o prazo saido!
Ai, madre, moiro d’ amor!
São versos escritos em português arcaico (séculos XII, XIII e meados do século XIV), que difere do português moderno. Essas mudanças ocorrem, porque a língua, influenciada pela cultura e pela fala, está em constante movimento. Como todo organismo vivo, ela é dinâmica, evolui, transforma-se. Nesse processo, algumas palavras e expressões que eram empregadas por nossos avós caíram em desuso. São os arcaísmos. Vejamos um exemplo.
Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles, todas muito prendadas. Os janotas arrastavam-lhe a asa e, se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalinho da chuva e ir pregar em outra freguesia. Alguns se metiam em camisa de onze varas e davam com os burros n’água.
Além dos arcaísmos, praticamente fora de circulação, existem outras palavras que jazem esquecidas nos dicionários, pelo menos na linguagem corrente. Foram muito empregadas pelos poetas parnasianos, que gostavam de palavras pomposas, rebuscadas, para eles joias preciosas. Usavam rútilo no lugar de brilhante, tálamo no lugar de cama ou leito conjugal, mansarda no lugar de sótão ou de casa miserável, blandícias no lugar de meiguice; gilvaz no lugar de cicatriz e por aí vai. Cautela no emprego dessas palavras: perguntar para alguém com uma cicatriz se sente pruridos no gilvaz pode ser perigoso… Se algumas palavras e expressões caíram em desuso, há outras de que se deve tomar conhecimento para adequarmos a linguagem ao nosso tempo. Nada evidencia mais a idade de uma pessoa do que termos do passado. Assim, convém registrar que vitrola virou som e micro system; anúncio ou reclame, publicidade; fita de cinema, filme; retratos, fotos; dificuldade, desafio; folhinha, calendário; japona, jaqueta; guarda-livros, contador; ficha, cartão telefônico.
Cumpre ainda ficarmos atentos às novas palavras que surgem a todo momento, de acordo com as necessidades e que contribuem para robustecer o vocabulário da língua portuguesa, ampliando o nosso acervo léxico. Relacionam-se principalmente à ciência e à tecnologia dos tempos modernos: genoma, efeito estufa, titular uma solução (Química), web, download, realidade virtual, inclusão digital, multimídia, inicializar, twitar, internauta, entre outras.
Além do estudo da evolução das palavras, consideremos a outra face que essas apresentam: elas são capazes de nos encaminhar para o mundo de sugestões, a fim de explorarmos as imagens sensoriais que evocam. Revestem-se de cor, som, cheiro, sabor para traduzirem as impressões colhidas em contato com o mundo físico. Nesse sentido, o escritor mineiro Bartolomeu Campos Queirós afirma que aço é palavra fria, que sombra é uma palavra deitada e que pássaro se escreve com dois ss, porque é no encontro das duas consoantes que se dá o movimento das asas.
Feitas essas considerações referentes ao reino das palavras, podemos dizer que quanto mais variado e ativo for o vocabulário disponível, mais aptos estaremos para a tarefa vital da comunicação.
Não chegou, madre, o meu amigo,
E oje est o prazo saido!
Ai, madre, moiro d’ amor!
São versos escritos em português arcaico (séculos XII, XIII e meados do século XIV), que difere do português moderno. Essas mudanças ocorrem, porque a língua, influenciada pela cultura e pela fala, está em constante movimento. Como todo organismo vivo, ela é dinâmica, evolui, transforma-se. Nesse processo, algumas palavras e expressões que eram empregadas por nossos avós caíram em desuso. São os arcaísmos. Vejamos um exemplo.
Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles, todas muito prendadas. Os janotas arrastavam-lhe a asa e, se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalinho da chuva e ir pregar em outra freguesia. Alguns se metiam em camisa de onze varas e davam com os burros n’água.
Além dos arcaísmos, praticamente fora de circulação, existem outras palavras que jazem esquecidas nos dicionários, pelo menos na linguagem corrente. Foram muito empregadas pelos poetas parnasianos, que gostavam de palavras pomposas, rebuscadas, para eles joias preciosas. Usavam rútilo no lugar de brilhante, tálamo no lugar de cama ou leito conjugal, mansarda no lugar de sótão ou de casa miserável, blandícias no lugar de meiguice; gilvaz no lugar de cicatriz e por aí vai. Cautela no emprego dessas palavras: perguntar para alguém com uma cicatriz se sente pruridos no gilvaz pode ser perigoso… Se algumas palavras e expressões caíram em desuso, há outras de que se deve tomar conhecimento para adequarmos a linguagem ao nosso tempo. Nada evidencia mais a idade de uma pessoa do que termos do passado. Assim, convém registrar que vitrola virou som e micro system; anúncio ou reclame, publicidade; fita de cinema, filme; retratos, fotos; dificuldade, desafio; folhinha, calendário; japona, jaqueta; guarda-livros, contador; ficha, cartão telefônico.
Cumpre ainda ficarmos atentos às novas palavras que surgem a todo momento, de acordo com as necessidades e que contribuem para robustecer o vocabulário da língua portuguesa, ampliando o nosso acervo léxico. Relacionam-se principalmente à ciência e à tecnologia dos tempos modernos: genoma, efeito estufa, titular uma solução (Química), web, download, realidade virtual, inclusão digital, multimídia, inicializar, twitar, internauta, entre outras.
Além do estudo da evolução das palavras, consideremos a outra face que essas apresentam: elas são capazes de nos encaminhar para o mundo de sugestões, a fim de explorarmos as imagens sensoriais que evocam. Revestem-se de cor, som, cheiro, sabor para traduzirem as impressões colhidas em contato com o mundo físico. Nesse sentido, o escritor mineiro Bartolomeu Campos Queirós afirma que aço é palavra fria, que sombra é uma palavra deitada e que pássaro se escreve com dois ss, porque é no encontro das duas consoantes que se dá o movimento das asas.
Feitas essas considerações referentes ao reino das palavras, podemos dizer que quanto mais variado e ativo for o vocabulário disponível, mais aptos estaremos para a tarefa vital da comunicação.